QUANDO VÃO ACORDAR, SENHORES EMRESÁRIOS ?

Quem visitou a Feira de Bologna, não acreditou no que viu. A Feira não era nem sombra das últimas Feiras. A Fimec no Rio Grande do Sul era, sem favor algum, pelo menos cinco vezes maior. Os próprios italianos diziam que, quem não participava já morreu e quem ainda participava, era de puro desespero.

De quem era a culpa? Dos chineses que invadiram a Europa sem nenhuma consideração. Sabendo da abolição das quotas em 1º de janeiro de 2005, já há tempos aceitavam pedidos para entregas em janeiro 2005, tanto assim, que nos primeiros 40 dias a importação do calçado chinês aumentou 600 (seiscentos) por cento. – E o Brasil nem quotas tinha quando a China foi declarada nação de comércio livre pelo governo brasileiro!

É impressionante com que calma o empresariado de calçados brasileiro está se comportando. No famoso poema Se.. do poeta inglês Rudyard Kipling tem verso que diz: se em volta de Você todos se desesperam e só Você se mantém calmo, é porque Você é homem! ao que retruca Murphy nas suas Leis: Pode ser que Você é o único que não percebeu a gravidade da situação!

No caso da importação do calçado chinês fico com Murphy. Já escrevi várias vezes o que pode ser feito, para pelo menos suavizar a situação crítica. Em primeiro lugar, produzir com qualidade incontestável. Segundo, evitar todos os desperdícios e, terceiro, ter serviço impecável.

Quero comentar hoje o segundo ponto, que discuti com um empresário, quando reclamei da precariedade do cálculo de consumo na empresa dele. Sem falar dos controles, etc.. só comentamos o cálculo. Disse a ele, que mesmo os sistemas CAD sofisticados como Satra, Naxos, Lectra, Calígula, etc. estão cometendo erros de concepção, que podem ocasionar cálculo a mais de 4,5% até 7,5% e no caso do SATRA, achei casos de até 30%!!! Ao que ele me retrucou, que 5% na opinião dele não é tanto assim.

E pela expressão dele vi que falava sério. Tive pena dele, imaginando como a firma dele vai se comportar na concorrência impiedosa que a espera num futuro já muito próximo. Cinco por cento do material entregue gratuitamente aos cortadores para se divertirem, não é tanto assim?

Será que ele nunca apreendeu a calcular ou ao menos raciocinar? Se ele produz 1.000 pares por dia, produz vinte mil pares por mês em média. Cinco por cento representa 1.000 pares. Será que não faz diferença desperdiçar no corte material que daria para produzir 1.000 pares por mês a mais? Pelo que pensa o nosso personagem, desperdiçar material para produzir 12.000 pares por ano a mais, não tem problema.

O que será necessário para acordar este tipo de empresários?

O cálculo de consumo de material é a base de qualquer cálculo de custo. Temos técnicas sofisticadas de cálculo de consumo, manuais, sem necessidade de sistemas caros para fazer isso. A alegação para não utiliza-los é que são muito demorados. Este muito é no máximo três horas por modelo. O que valem 3 horas de um calculista que ganha 500 Reais por mês? E o que vale o material economizado, entregue aos cortadores na conta certa e exigindo-se deles o cumprimento do cálculo?

Numa empresa, onde presto serviço de consultoria há anos, e onde se desperdiçava até 20% do couro pela falta de cálculo e de controles, hoje o dono ficou nervoso quando o prejuízo de todos os 35 cortadores atingiu 0,77% durante todo o mês de março. Acha, que é isso um absurdo e não aceita justificativas. O chefe do corte que corrija o acontecido para não se repetir!

Acordem, senhores empresários, enquanto há tempo para se organizar e tornarem-se competitivos.

Zdenek Pracuch