CATÁLOGOS PARA S. TOMÉS VEREM

Grande amigo, Jorge Andalaft, hoje próspero comerciante em Franca, e meu colega ex-combatente dos tempos gloriosos da Samello e NIKE, esteve na Alemanha em visita à filha e aproveitou para dar uma chegada a maior Feira de calçados do mundo a famosa GDS em Düsseldorf.

As impressões de maravilhado e assustado se misturaram. Logo após a volta me chamou para dizer, de como ficou impressionado com a atuação e a presença dos orientais. Não vou repetir os comentários dele, porque foram comentários pessoais e nem tenho autorização para repeti-los. Em tese, confirmaram tudo o que já foi dito e escrito: não há como escapar do “tsunami” que está rolando para as nossas praias.

Para não ficar só nas impressões, o precavido Jorginho providenciou uma quantidade de catálogos, que diligentemente colecionou nos estandes dos nossos colegas sapateiros chineses. Basta dar uma olhada desapaixonada, fria e objetiva nos ditos catálogos para que emudeçam todas as argumentações que tentam minimizar o perigo iminente.

Imaginem o calçado palmilhado, que hoje ninguém mais produz no Brasil (para a geração jovem, que nunca ouviu falar neste calçado devo dizer, que é como um Rolls Royce ou Lamborghini comparado com Corsa ou Celta, dos nossos calçados colados), feito de couro de primeiríssima e com sola de couro!

Não seria nada estranho que o couro de que foi fabricado, fosse de origem brasileira. Podem perguntar a qualquer curtidor se consegue comprar couros de primeira, segunda ou até de terceira? Vai tudo para exportação. E como me disse na semana passada um curtidor no Distrito Industrial de Franca: depois da 8a (!) classificação já inventaram a classe R1 e R2, ou seja, até o couro rejeitado já tem duas classificações!

Onde vamos parar? Como vamos combater os importados? Porque o mais assustador e incrível é o preço pelo qual o calçado palmilhado do qual falei no início, repito, todo de couro, foi oferecido: USD 25,00 o par. Ou seja, na cotação de hoje (04.03.07) R$ 53,25. Esqueci de perguntar ao Jorginho se o preço era f.o.b. China ou c.i.f. porto brasileiro. Mas quem tiver esta curiosidade, pergunte diretamente.

Os São Tomes de plantão, que terão oportunidade de ver os catálogos do Jorge podem se maravilhar com belíssimas criações em calçado feminino, tênis ultra moderno, já na linha de solados leves e finos, enfim, festa para os olhos e para o bolso dos compradores.

Não há nada de novo nisso. A invasão dos Estados Unidos e da Europa pelo calçado chinês e agora vietnamita também, têm a sua explicação: preço e qualidade, aliadas a pronta entrega. É tão simples.

Qual é a saída para a nossa indústria? Não é simples, mas é possível, como o demonstram alguns italianos e até poucos alemães, uns poucos portugueses e poucos espanhóis, que sobrevivem até surpreendentemente bem.

Produzir artigos originais com criatividade e bom gosto, de grande valor agregado, de uma qualidade absolutamente indiscutível, para uma faixa do mercado, que procura ser diferente da massa popular e para a qual o preço é o último item a ser considerado. E, pasmem, estes artigos podem ser até exportados para os próprios chineses, onde a classe média e alta a procura de novidades, já está ultrapassando os 200 milhões de pessoas! Por que não?

Temos couros exóticos, couros de jacaré, de peixe, de lagartos – artigos que beiram o artesanato. E para estes artigos o mundo está aberto, ávido. Observem as compras dos turistas na Amazônia, no Norte e Nordeste. – A estratégia que vencerá nos anos vindouros será a de: trabalhar menos a ganhar mais. Trabalho em si até pode ser mais intenso, mas as quantidades produzidas serão bem menores, mas bem mais lucrativas.

Zdenek Pracuch


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