A IMPORTÂNCIA DO CONFORTO

A indústria de calçados atravessa suas fases de desenvolvimento, como qualquer ramo industrial atravessa as suas particulares. Superamos a fase da qualidade. Hoje, a qualidade é um item indiscutível e a velha afirmação de “meu produto tem qualidade”  até soaria bastante ridícula. O que quer fazer no mercado se não tiver a qualidade?

Estamos saindo da fase do conforto. Repito estamos saindo. Falta ainda bastante para poder afirmar que já superamos esta fase para entrar na próxima que é a saúde dos pés. Ainda estamos trabalhando para dominar a fase do conforto. Temos até (a única no mundo) uma entidade que se prontifica a certificar o conforto proporcionado pelo calçado que é o Instituto Brasileiro de Tecnologia do Couro, Calçados e Afins, em Novo Hamburgo, RS,

Pode parecer um pouco irreal, quando levamos em conta a infinita variedade dos pés dos consumidores a partir do fato, que raramente uma pessoa possui os dois pés iguais. Existe uma diferença, muitas vezes bem pronunciada entre o pé esquerdo e o pé direito!  Em termos práticos isso significa que o certificado que declara um produto como confortável, pode causar um desconforto ao ponto de impedir o uso por um comprador diferente, embora calçando o mesmo tamanho.

Mas, isso não altera o fato de que o conforto do calçado está sendo cada vez mais observado e solicitado pelos compradores, principalmente dos homens. Pelo estudo efetuado pelo Núcleo de Inteligência de Mercado do Instituto de Estudos e Marketing Industrial o conforto está em primeiro lugar na avaliação do calçado pelo comprador, com 65,4 % de pontuação, seguido de longe pelo item Moda com 35,2 %.

É um estudo interessante, mas em primeiro lugar temos que salientar a importância deste estudo para a criação, desenvolvimento e venda dos calçados, principalmente dos calçados masculinos. A própria definição do conforto pode ter significado diferente para compradores diferentes. A escolha de formas, de materiais, tipo de construção do calçados, critério de beleza, da funcionalidade ou da saúde do pé – tudo isso são pontos decisivos para a finalidade do conforto.

Cabe um papel enorme nesta tarefa de conseguir um calçado com o máximo de conforto aos formeiros, aos fabricantes de formas, que não devem ser meros executores dos desejos dos designers de calçados, mas devem ser eles os orientadores para consecução do calce mais perfeito e mais confortável. A figura do Oscar Kunz, legendário formeiro gaúcho, que sistematicamente se recusava a atender aos pedidos dos industriais, quando, na opinião dele, a forma solicitada não atendia aos requisitos de um calce confortável.

Pelas estatísticas mundiais de medições em massa dos pés das pessoas sabemos que somente 65 %  das pessoas, podem calçar com relativo conforto os calçados feitos sobre as formas industriais. 30 % dos clientes têm que usar uma adequação, por exemplo, usar um calçado com a numeração acima daquela a ser normalmente usada e 5 % não tem condições de usar um produto industrializado e tem que recorrer ao calçado feito sob medida, ou então calçar um produto inadequado, com alto grau de sofrimento.

Não é fácil atender aos requisitos de conforto quando consideramos que o calçado deve se adaptar ao pé em repouso e em movimento e não o pé se adaptar ao calçado. Deve  ter espaço suficiente para os artelhos. Deve ter capacidade suficiente para absorção dos impactos e oferecer uma estabilidade por meio de palmilha conformada aos contornos e saliências da planta do pé. Deve ter ventilação suficiente para manter o pé frio e ter capacidade de absorção da umidade exsudada pelo pé. Deve ter flexibilidade para leveza do andar sem, no entanto, prejudicar a importante aderência ao piso.

Estes são alguns dos pontos a serem observados para a construção de um calçado confortável, estável e seguro para caminhar. Repito, são somente alguns dos aspectos, porque podem ser muitos mais, dependendo do uso a que se destinam. Há enorme diferença entre um calçado social masculino ou feminino e um calçado para andar nas trilhas, ou botas para bombeiros. Mas todos os calçados devem oferecer conforto aos seus usuários.

O melhor teste para o conforto é o alívio ou a falta de sentir um, quando descalçamos o  calçado usado durante um dia de verão, particularmente quente. Se chegarmos a sentir alívio ao descalçar o calçado a noite, é sinal de que o calçado não passou no teste do conforto.

Zdenek Pracuch
12/11/12