CRESCER SIM, MAS ATÉ QUE PONTO?

Presto minha assistência ao selecionado grupo de empresas, que primam pelo seu dinamismo e vontade de se enquadrar pela tecnologia, estruturação e métodos de trabalho entre as empresas do terceiro milênio. São empresas que sobreviverão, com toda certeza, no embate de competência que veio com a globalização.

Com o decorrer do tempo e desenvolvimento do meu trabalho, sempre aflora a mesma pergunta: até que ponto é conveniente crescer, até que ponto uma empresa calçadista manterá o seu dinamismo e flexibilidade para se adaptar às mudanças que são nos impostas cada vez mais depressa e cada vez mais carregadas de conseqüências se não forem atendidas.

Há uma série de condicionamentos para responder a esta pergunta, vital para o futuro de qualquer empresa, não só calçadista. O primeiro condicionamento está no direcionamento da empresa. A imensa maioria das empresas calçadistas cresceu em função da fábrica, da produção. A colocação de produção, a distribuição dos produtos, foi confiada a terceiros, sejam eles representantes comerciais ou atacadistas.

Com isso o produtor perdeu o mais importante elo entre ele, produtor, e o consumidor final. As informações que recebia e recebe são informações de segunda mão, requentadas, baseadas nos interesses de terceiros, que pouco se preocupam com o destino ou o futuro da empresa. A comercialização no terceiro milênio age justamente em sentido oposto. Importante e difícil é atender ao gosto e exigência do mercado. O difícil é vender. Produzir é fácil – por mais que os produtores esperneiem por esta opinião.

A empresa deve ser estruturada a partir do departamento de vendas, que é o núcleo mais importante de qualquer empresa. O que adianta ter produto se não tenho condições de levá-lo ao mercado? Vendas vão mostrar e ditar o volume e o tamanho de crescimento.

O segundo condicionamento do problema está na globalização, conjuntura mundial e por tabela, economia brasileira, cada vez mais imprevisível, a despeito do otimismo do governo, cujo único mérito foi, de não mexer no esquema da economia herdada do governo anterior.

A globalização nos afeta de dois modos: estamos competindo na área de couros e calçados com asiáticos, cada vez mais armados e aperfeiçoando a produção, com ajuda de tecnologia européia e do capital americano e, no segundo ponto, Brasil se tornou exportador de matérias primas e alimentos e perdeu competitividade nos manufaturados. Disso pouco se fala, mas ainda há dez anos atrás, manufaturados (automóveis, aviões, móveis, confecções) respondiam por mais da metade das exportações. Ano passado  foram apenas sete por cento.

Como não há poupança interna e para sustentar o mínimo de crescimento o Brasil precisa de capitais. Mas onde os irá buscar, se a balança comercial for negativa, commodities com preços em queda e outros dois concorrentes (Índia e China) não têm uma dívida interna igual ao PIB. Quem será que irá atrair mais investimentos? Quem oferecerá mais segurança aos ariscos investidores estrangeiros? Com reservas cambiais minguando?

Estamos falando de finanças tão somente. E o custo Brasil? Burocracia em expansão, infra-estrutura (portos, aeroportos, estradas) em pedaços, em quanto isto irá aumentar as nossas planilhas de custos? Não há nenhuma demagogia nisso. Deixo esta parte  para os políticos. Isto é puro realismo, ditado pela experiência de anos dedicados aos negócios internacionais tanto no Brasil como no exterior. E meus professores na trading em que trabalhei eram judeus de altíssimo nível.

Outro condicionador que deve ser observado cautelosamente é a disponibilidade do capital de giro. É fácil determinar a subida de produção de três para cinco mil pares, fazendo de conta que não há problema de venda desta quantidade. A pergunta é: Quem é que vai financiar esta produção, entre a compra de material e o recebimento, que hoje já se tornou comum, em até 120 dias?

Ano de 2010 ainda irá permitir certas extravagâncias. Num ano eleitoral, dinheiro correrá solto e a euforia oficial passará para o povo. A ressaca virá em 2011, ganhe quem ganhar a presidência. A fatura implacável será apresentada. A “bolha” do Brasil será um pouquinho diferente da americana, mas também terá seu componente imobiliário. A maior, porém, virá dos cartões de crédito e do financiamento de automóveis. Os primeiros sinais de inadimplência já estão sendo notados e parcialmente sufocados, para não espalhar o sentimento “os outros estão devendo, porque não posso ficar devendo também?”.

Até que ponto convém crescer? Até o ponto que qualquer crescimento não seja financiado pelo capital de terceiros, sejam fornecedores ou instituições financeiras. O que falta, infelizmente, aos nossos empresários é uma modéstia sadia. Por que é que o prédio onde funciona a minha empresa deve ser meu? Qual é a desonra de alugar um prédio e manter meu capital de giro intacto?

Novamente podemos ir buscar exemplo aos colegas do Norte. O americano constrói a fábrica que idealizou, mas logo a seguir a vende para uma instituição financeira e a aluga via “Leasing” e todo capital empatado fica imediatamente disponível novamente.

Há outros aspectos, que deveriam fazer parte da indagação “até que ponto crescer?”, mas a coluna viraria trabalho da tese. Só um pequeno aviso ainda: atenção a produção em maiores quantidades ainda não representa um proporcional aumento de lucratividade! Esta ilusão muitas vezes seduz o empresário para dar um passo maior que as pernas permitem. A produção de maior número de unidades geralmente traz a diminuição de lucratividade por unidade produzida.! Razão para tanto? São muitas, mas todas elas comprovadas. Quem quiser discutir e aprofundar-se neste detalhe é só me contactar.

Zdenek Pracuch