DESPERDÍCIOS

A competitividade força as empresas a cortar os custos de maneira drástica. Mas nem sempre os custos são identificados com precisão pelos responsáveis, vítimas que são dos hábitos, da acomodação e aquilo o que os alemães chama de Betriebsblindheit “a cegueira da empresa” em tradução livre.

Quando se fala em cortar os custos, a primeira reação do nosso empresariado é de atacar a folha de pagamento. Sem pensar que, raramente, a folha de pagamento atinge mais de quinze por cento do preço de venda do produto. Mas por ser paga uma vez por mês representa um volume de dinheiro muito visível, concentrado e, por este motivo, é o primeiro alvo quando se fala em contenção das despesas.

Pouquíssimos donos de empresa se dão o trabalho de quantificar o quanto custam as demissões e no futuro as readmissões. Temos o ativo intangível, do treinamento, das perdas ocorridas durante o treinamento, a valiosa experiência dos que estão sendo demitidos, sem falar na desmotivação dos que permaneceram – quando vai chegar a minha vez?

As fontes dos desperdícios são até fáceis de identificar, principalmente na área de materiais. Falta de rigoroso cálculo de consumo, entrega de material sem nenhuma base aos cortadores, os quais não tem nenhum controle ou incentivo para economizar, falta de cálculo de consumo de insumos e assim por diante.

Uma fábrica que produz 1.500 pares por dia, se perder um grama de cola, um único grama de cola por par, terá um prejuízo de 330 quilos de cola no decorrer de um ano. Vale a pena exercer controle? E se forem dois, três ou cinco gramas? - Tamanho de uma unha é de aprox. 1 centímetro quadrado. Este um centímetro quadrado, com uma produção anual como acima citada se torna um prejuízo de 33 metros (!) quadrados. E basta olhar quantos centímetros quadrados rolam pelo chão na seção do corte! Qual é a fábrica que pode agüentar uma sangria destas? E permanecer competitiva?

Compras excessivas, restos do material da “coleção passada” que, a não ser o dono da fábrica, ninguém sabe identificar, material mal armazenado – a lista é longa, mas tudo isto é desperdício que entra no custo e nos faz menos competitivos.

O desperdício do tempo, num país do futuro eterno, é pura perda de mais tempo a ser mencionado. Como se perde tempo em nossas fábricas. Como é mal planejado o trânsito de mercadorias em produção! Toda vez que alguém deve carregar um serviço de um posto de trabalho para outro, ou de um lado da fábrica para outro, está acrescentado ao preço do produto o custo em tempo do salário que ganha, sem nenhuma contrapartida em valor, nem um mísero milésimo de real, acrescentado ao valor do produto.

É aí que os donos das fábricas ou seus prepostos deveriam fazer a economia de mão-de-obra e não pelo corte linear da folha de pagamento. Em primeiro lugar não esquecer que o lay-out atual da fábrica é o resultado do crescimento desordenado e, em segundo lugar, que no terceiro milênio a mercadoria tem que ser levada aos postos de trabalho sem interferência de mão humana. Para que servem os transportadores?

Desperdícios de espaços não custam dinheiro, mas dificultam a logística, a movimentação dos produtos e por isso também são causadores de prejuízos diretos para o custo do produto. A simples eliminação de “frentes” de trabalho, tão ao gosto dos gerentes das fábricas, que deste modo mascaram a falta de organização e de falhas na programação, já nos pode poupar preciosos metros quadrados de espaço e conseqüente menor movimentação.

A “frente” antes do pesponto, ante a montagem é completamente desnecessária, havendo o mínimo de disciplina na execução da programação. E o custo da mercadoria em giro, ou melhor, parada esperando ser manipulada? Isto também é desperdício!

Quanto ao desperdício da energia, pouco há a se dizer, porque o desperdício já vem de casa. Pouca gente se preocupa em apagar a luz quando sai do quarto, desligar a televisão quando ninguém está assistindo ou abrir e fechar a porta da geladeira com rapidez necessária para baixar o gasto de energia. Por que então esperar, que alguém vai desligar a luz na fábrica sobre um corredor, onde durante horas ninguém passou, a luz que ilumina as prateleiras do almoxarifado, ou desligar o motor da máquina, indo ao banheiro? O cortador vai buscar o serviço, no caminho pára porque quer comentar alguma coisa com colega e o motor de 3 kWh está girando todo este tempo.

Os celulares trouxeram uma anarquia completa para a economia. Com telefones fixos em poucos lugares na fábrica, o simples fato de se deslocar para falar já serviu como fator inibidor ao desperdício. Mas hoje? Sem mais comentários.

Para um observador atento e objetivo há muitos pontos dentro da indústria, que podem ser objeto de estudo de economia. Existe hoje um movimento, com bom fundamento, sobre o aproveitamento racional de todos os recursos que temos à nossa disposição. Isto não se aplica somente aos recursos naturais, mas sobretudo, a toda a atividade humana e no nosso caso ainda mais importante, por nos proporcionar economias que se refletirão no custo do produto. E, por tabela, em vendas mais fáceis e no aumento de competitividade ou, de lucros.

Vamos fazer força para evitar desperdícios?

Zdenek Pracuch
01/08/11