ESTATÍSTICAS

Estamos sufocando com a avalanche de dados estatísticos, que podemos interpretar ao nosso bel prazer, talvez, só nos preocupando com sua procedência. Porque temos os otimistas profissionais, do tipo do ministro da Fazenda, bem como os pessimistas do tipo Norriel Roubini que, infelizmente, até hoje teve muito mais acertos do que o nosso ministro.

O desastre do “pibinho” chamou a atenção de muitas pessoas que nunca prestaram a minima atenção às porcentagens divulgadas pelo governo ou pelas entidades encarregadas de acompanhar a saúde econômica da nação. Mas, a crescente incerteza sobre os rumos da economia, está chamando a atenção até das pessoas ou de empresários que nunca se preocupavam com este aspecto e deixavam o assunto para os que, achavam, que entendiam mais.

Infelizmente, não adianta fingir ou apresentar o desinteresse. Nosso bem estar e o nosso futuro estão diretamente vinculados à coleta e à interpretação destes números e, mais cedo, ou mais tarde, sentiremos no bolso ou no nosso bem estar o resultado daquilo o que as estatísticas nos indicam. Autor de grandes frases, o ex-ministro Delfim Neto disse uma vez que as estatísticas se parecem com um bikini feminino: mostram o óbvio e escondem o essencial. Acertou.

Ler os números pouco nos instrui e não é fácil. Mas da correta interpretação destes algarismos depende a nossa capacidade de nos orientar para nos proteger ou mudar de rumo. Temos como exemplo os dados sobre o desempenho da indústria em geral, que aumentou a sua produção em 5,3 % em janeiro em comparação com janeiro de 2012. Uma salva de palmas! Mas quando analisamos estes números detalhadamente descobriremos que os vencedores foram a indústria de mineração e a agroindústria. A indústria de transformação, notadamente a indústria têxtil e automobilística tiveram desempenho negativo em 8,6 % e 4,3 % respectivamente.

Vamos ouvir mais uma vez Delfim Neto: A média tem seus segredos! O consumo de frangos “per capita” no Brasil é meio frango por ano. Isso quer dizer que eu vou comer um  frango inteiro e Você vai passar fome mas a estatística está certa! Expliquem ao funcionário demitido, que os empregos com carteira assinada, em janeiro 2013 aumentaram em 20.943! Com certeza vai ficar contente e animado.

Num trabalho interessante o professor e economista José Pastore analisou os dados relativos aos custos industriais com enfoque especial ao custo de mão-de-obra, depois da decepção com os lucros minguados da Vale e da Petrobrás. Não que os dois gigantes pudessem servir de base de comparação com a indústria de couros e de calcados. Longe disso. Mas os dados sobre o aumento de custo de mão de obra e conseqüente diminuição de lucros pode ser aplicado também à nossa indústria, mormente agora, quando os sindicatos estão em plena batalha salarial.

Pastore citando Dieese afirma que em 2012, 95 % das negociações salariais foram superiores à inflação. Na indústria isso representou 5,8 % em termos reais. Como a produtividade do trabalho caiu 0,08 %, o custo efetivo do aumento real foi de 6,6 % - o maior aumento em 11 anos! A própria Organização Internacional do Trabalho  (OIT) constatou que os salários no Brasil estão crescendo a um ritmo duas vezes maior do que a média mundial o que explica a forte expansão do consumo.

É importante lembrar que sobre o custo do salário e dos vários benefícios negociados  incidem pesadas contribuições (viram a mais recente proposta de imposto sindical de 1 % ao mês ?) e vários encargos sociais, que no total representam mais de 100%. Esta conta também é aumentada  pelas decisões judiciais (sentenças, súmulas, precedentes normativos etc.) e pelas crescentes exigências  no campo da saúde e de segurança. Os estudos internacionais indicam que os custos não salariais do Brasil são os mais altos do mundo.

Mas, de acordo com os otimistas de plantão, vamos melhorar a nossa produtividade para sermos competitivos! – Só mais um pouco de estatística: a proporção do crescimento do PIB que é devida ao aumento de produtividade, no caso do Brasil é de 25%, na Coréia do Sul é de 75 % e na China é de 93 % - dados coletados pelo José Pastore.

Vamos nos preocupar mais com os dados estatísticos que refletem a realidade do nosso dia-a-dia? Vamos facilitar a coleta de dados para que sejam confiáveis e aproveitáveis, ao mesmo tempo, que vamos exigir dos órgãos, entidades e organizações de classe o acompanhamento e divulgação de dados que sirvam para orientação nos negócios ou como argumento nas negociações salariais e de condições de trabalho? Se não for assim, como vai ficar a tal de competitividade?

Zdenek Pracuch
29/04/13 (edição póstuma)