GESTÃO DE CUSTOS - Parte III

Nas colunas anteriores (Gestão de Custos – Parte I – leia aqui e Gestão de Custos – Parte II – leia aqui) abordei a gestão de custos sob o aspecto geral, principalmente com relação a comercialização no terceiro milênio, tão diferente daquilo a que estávamos acostumados no século passado. A inserção cada vez maior da economia nacional na economia global é um dos maiores fatores das mudanças e a indústria de calçados é hoje uma das maiores vítimas.

Esta coluna vai abordar os aspectos específicos vinculados à parte da produção, à parte interna de cada empresa. Há muito a fazer. Segundo a revista Exame (28.12.11) a produtividade do operário brasileiro (per capita do PIB) era de 7 US dólares, do chinês 14 US dólares e do norte-americano 34 US dólares. Não vamos culpar o operário, mas temos que olhar mais de perto os métodos, a tecnologia e gestão das empresas.

Na indústria de calçados, de fato, houve um progresso mínimo na tecnologia ou nos métodos de produção. Os desperdícios e a falta de controles, principalmente no uso de materiais e insumos, desafiam o bom senso. Até hoje há empresas que não sabem calcular o consumo de matéria prima ou usam coeficientes de desperdício, que mascaram a falta de técnica dos cortadores. E o coeficiente exponencial de aumento de tamanhos? Hoje trabalhamos com coeficientes consagrados pela prática no mundo inteiro, mas no Brasil qualquer programador de informática inventa um coeficiente a seu bel prazer.

Gestão de custos – muito bem, comecemos pela seção do corte de couro ou de sintéticos. A economia começa pela conferencia do material recebido. Quantas empresas se dão o trabalho de medir os couros que estão recebendo? Quantas empresas têm certeza de que o rolo de material sintético tem a metragem que consta da etiqueta?

Quem acompanha detalhadamente o aproveitamento de cada cortador, em cada ficha de corte, todos os dias? Qual é a ação corretiva, quando os resultados são negativos? Quando se leva em conta que a matéria prima é um dos maiores componentes do custo, qualquer descuido neste ponto pode ser o diferencial entre lucro ou prejuízo.

O pesponto é outra fonte de desperdícios, seja pela má elaboração dos modelos, que já nasceram errados na modelagem, ou pela tecnologia do processo. Há fábricas onde o número de coladeiras supera o número de pespontadeiras. E quando digo, que no mundo raramente alguém cola uma outra peça, poucos acreditam. No entanto, não se trata somente da economia de cola ou de mão-de-obra. Toda vez que a agulha passa pela área colada, leva para a lançadeira partículas microscópicas de cola e a máquina trava uma ou duas vezes por semana, como qualquer pespontadeira pode confirmar. É necessário parar, limpar a lançadeira para continuar o trabalho. Mas o problema maior reside no fato, de que uma lançadeira que deveria durar até dois anos, dura seis meses.

Até hoje não encontrei nenhuma empresa que estivesse colocando no custo cinqüenta reais por máquina por mês desta despesa. O valor é calculado com base no preço de lançadeiras para as máquinas de coluna. E aqui temos outro motivo de custo desnecessário. No mundo inteiro e, principalmente na China, mais da metade das máquinas do pesponto são máquinas planas, de mesa. Cujo custo é um terço das máquinas de coluna e com operação e manutenção muito mais vantajosa. Ninguém é capaz de justificar o uso exclusivo de máquinas de coluna nos nossos pespontos.

Quando um dia, em Nova Serrana, perguntei ao representante de um fabricante nacional de máquinas de pesponto porque no catálogo deles não havia máquinas planas, recebi como resposta: Onde já se viu costurar calçado na máquina plana? - Responder o que? Mandá-lo para a China?

Nos departamentos de montagem há muita coisa que não está de acordo com uma boa produtividade. Mas, geralmente, estas situações são criadas já na fase do desenvolvimento ou, então, pela falta de execução do planejamento de vendas, onde há excessiva liberdade dos representantes para primeiro: vender o que interessa a eles e, segundo, ter liberdade para “inventar” mudanças nos modelos estabelecidos, trocando cores, cor das linhas e até os solados, para poucos pares (já vi pedidos de UM par!), que obviamente causam tumulto na produção.

Já escrevi muitas vezes sobre o tempo excessivo que o calçado fica transitando pelas fábricas. Há uma série de inconveniências causadas por este fato. Grande capital de giro empatado, que já deveria estar faturado e a mercadoria nos pés dos clientes, tumulto na organização, fichas perdidas, fichas incompletas esperando para ser despachado o pedido, mercadoria sujeita ao desbotamento, sujeira e re-trabalho – tudo isso quando hoje já temos fábricas que giram a mercadoria em menos de duas horas. Fábricas chinesas, as modernas obviamente, produzem em três horas. New Balance nos Estados Unidos produz um par em 24 minutos! Por que, então, temos aqui empresas onde a mercadoria rola pela fábrica até duas semanas?

Como pode ser visto a tarefa de levar as nossas empresas ao terceiro milênio, com alguma chance de sobrevivência no mundo globalizado, com competidores munidos de tecnologias novas, sem o peso da tradição e da mentalidade – por que mudar? Sempre fizemos assim e deu certo! – esta tarefa exigirá um esforço muito grande, principalmente, pela mudança na mentalidade da acomodação, do deixa estar para ver como fica.

Felizmente, há entre nós empresários, que estão plenamente cientes destes fatos e, quem sabe, o exemplo deles servirá aos outros que ainda hesitam para criar coragem e enfrentar os novos tempos com dinamismo e arrojo que estas mudanças exigem.

(Gestão de Custos – Parte IV – leia aqui)

Zdenek Pracuch
09/01/12