JUSTIFICANDO E INEFICIÊNCIA. OUTRA VEZ?

O jornal gaúcho O Exclusivo, na sua página na Internet Exclusivo “on line” (17/08/08) voltou a comentar o que podemos chamar de relatório Schutz, a concorrência desleal, aparentemente cometida pelas fábricas na Índia e desta vez, também, no Egito.

O diretor Cassel da Schutz, desta vez deu entrevista exclusiva ao jornal, sobre a sua visita na Índia, onde visitou as duas fábricas, pequenas, que fornecem à cadeia de lojas Catwalk e com as quais ele quis formar parceria, mas desistiu depois que viu as condições precárias em que os calçados eram produzidos e disso deduziu, que toda indústria de calçados indiana é assim..

Já escrevi antes sobre a precipitação do julgamento da enorme indústria de calçados na Índia, maior que a brasileira e enormemente pulverizada, entre as empresas de porte realmente grande e micro-micro-empresas familiares.

Desta vez O Exclusivo, também, entrevistou o conhecido professor Paulo Humann, que atua no Rio Grande do Sul e que fez uma viagem por conta de um fabricante de adesivos para Alexandria no Egito, visitou duas fábricas e achou as condições de trabalho degradantes. – Até aí nada de novo, condições subumanas e degradantes de operários já foram encontradas e descritas numerosas vezes no mundo inteiro e não tão somente na indústria de calçados. Também não é bom atirar as pedras se temos telhados de vidro.

Na época em que, por contrato com a FIEMG – Instituto Euvaldo Lodi – prestava assistência para micro e pequenas empresas, encontrei em Nova Serrana uma empresa onde a seção de acabamento do calçado ficava na área de tanque para lavar a roupa da família e, as vezes, por descuido a água da roupa respingava sobre o calçado antes de ser embalado. Quem já visitou “fábricas” de Caruarú e Timbaúba em Pernambuco poderia tirar fotografias iguais a da Índia. Podemos encontrar empresas, onde é preciso coragem para entrar! - Ainda bem que não veio nenhum diretor indiano para botar a boca no trombone!

Tudo bem, condições degradantes, fábricas miseráveis etc., mas disso deduzir que isso tira competitividade ou deixa o empresário brasileiro em desvantagem é muita demagogia ou ignorância. Das pessoas de quem partem as observações acima citadas, poder-se-ia esperar maior discernimento.

O que nos tira do mercado internacional são impostos elevados, a famigerada CLT, cuja reforma será feita num futuro incerto. Com certeza não será feita com um presidente que não fez nada mais na vida do que organizar sindicatos e greves. O que nos tira competitividade é uma enorme burocracia, portos congestionados, logística cara - o famoso custo Brasil.

Era de se esperar do senhor diretor Cassel, que apontasse os impostos embutidos no valor de 39,6 % no custo do calçado, que apontasse (dependendo do cálculo) os 50 até 85 % de acréscimo sobre a folha de pagamento, o juro alto - medalha de ouro – campeão mundial, um governo que prefere exportar commodities e com isso exporta os empregos no lugar de manufaturados e, assim por diante. Senhor diretor Cassel não devia perder tempo falando sobre operários que costuram calçados sentados no chão. Será que nas fábricas dele a planilha de custos no tocante a mão-de-obra ultrapassa os 15 %? Tenho minhas dúvidas. Por isso não será esta diferença que nos tira o mercado de exportação. Os operários sentados no chão não são ameaça à nossa indústria.

Quanto ao professor Humann que, talvez, não tenha acesso aos dados mais precisos e se deixa levar pela emoção no lugar do raciocínio frio, pode ser perdoado. – Há muita coisa que devemos corrigir na nossa roça antes de nos preocupar com vizinhos. Que tal diminuir desperdícios, que tal sermos mais criativos, que tal sermos mais agressivos comercialmente?

Há muita coisa que deve ser feita e pode ser feita. Uma das últimas coisas a se fazer é procurar vilões de fora e culpá-los pelos resultados da nossa própria ineficiência.

Zdenek Pracuch