ADEUS “MADE IN ITALY” ....

Quem diria! Até o berço de sapataria moderna, país a quem a indústria de calçados deve tanto, até este país está sucumbindo debaixo do tsunami oriental.

Segundo Rosano Orsini, presidente da Associação Nacional de Produtores de Calçados Italianos, representante de mais de mil empresas e que entrou com recurso na Justiça contra a China por dumping – vender os calçados por preço inferior ao seu, “os chineses praticam competição desleal”. – Fácil de dizer, mas muito difícil de comprovar.

O resultado disso é que, nos primeiros seis meses, quando as importações chinesas do calçado de couro subiram 700%, cerca de oito mil pessoas perderam emprego e, segundo a mesma fonte, até o fim do ano cerca de 30 a 40 mil pessoas ficarão desempregadas. Em toda Europa, cerca de 500 mil pessoas correm o risco de perder o emprego, sendo 150 mil só na Itália.

Firmas tradicionais como Pollini, simplesmente fecharam as portas. Outras tentam escapar transferindo-se para outros países, como fizeram Lumberjack, Geox e outras.

Quem está escapando são as firmas, que trabalham com artigos de alto luxo, cujo preço começa na faixa de 400 USD por par. Mas, infelizmente, estas são muito poucas e em números pouco representam.

O que aconteceu? Em 1 de janeiro deste ano foram derrubadas as barreiras que estabeleciam cotas de importação aos Países da União Européia para os calçados fabricados no exterior. – No Brasil aconteceu algo similar – o governo declarou a China como nação do comércio livre, mas para efeitos práticos, as duas decisões e as conseqüências são iguais.

Nós ainda não sentimos seus efeitos em toda extensão. A decisão foi tomada recentemente e ainda não houve tempo prático para os importadores se estruturarem e entrarem no mercado para valer. Na Europa a nova situação foi anunciada com anos de antecedência e quando entrou em vigor, os esquemas de importação e comercialização já estavam prontos.

Triste nisso é o fato que, a despeito de tudo o que acontece com nossos colegas italianos, pouquíssima gente aqui se dá conta do tsunami, como disse antes, que se aproxima implacável.

Nas nossas fábricas continua o desperdício de tudo que é passível de desperdiçar, continua o festival de operações supérfluas, continua a ociosidade, continua o solene desprezo por um cálculo de custo real, o serviço de atendimento e de vendas continua precário – mesmo quando o lobo mau já está cercando o jardim e as crianças inocentes brincam. Até quando?

Zdenek Pracuch