O PRINCÍPIO DE PETER

Recebi um telefonema de um senhor desconhecido para mim, que se declarou pequeno fabricante de calçados, que lê meus artigos publicados nos jornais e revistas e que atingiu um ponto onde se pergunta se deve prosseguir com as atividades dele ou se melhor seria desistir. Disse amávelmente que criou coragem e convidou-me para visitar a empresa dele, para conversarmos e ouvir a minha opinião.

Bem, até aí, nada de novo. Recebo telefonemas ou e-mails o tempo todo. Já encontrei esta situação numerosas vezes. - Parece que na vida de todos os empresários existe um ponto, conhecido na aviação como “point of no return” – ou seja, o ponto em que não é mais possível retornar, só seguir adiante, e seja o que Deus quiser. Esta dúvida até que é saudável e demonstra que o empresário chega a perceber a vulnerabilidade dele, descer do pedestal de Todo-poderoso, Omnisciente e Omnipresente e está maduro para ouvir opiniões que, quase sempre, serão diferentes das dele.

É uma atitude madura e uma vez estando pronto, o empresário, para aceitar as opiniões ou instruções de outras fontes poderá, realmente, mudar o destino da empresa e de todos que dela dependem. Exemplos não faltam: hoje temos algumas empresas que se tornaram pontos turísticos (em Nova Serrana e Itapecerica) e objeto de comentários de admiração, pelo simples fato de os empresários envolvidos terem tido a coragem de sair das trilhas batidas e buscar caminhos novos, atualizados, modernos – condizentes com o terceiro milênio.

Há poucas semanas vivi a experiência que ilustra o que disse acima. Fui convidado por um empresário de uma pequena indústria de calçados, para fazer o que chamo de Radiografia da Empresa, onde analiso os pontos fortes e fracos. Como resultado apresentei a sugestão de vinte e dois pontos, de melhoramentos que achei necessários, desde a configuração de modelos, administração de materiais (almoxarifado e cortadores), compras, produção (falhas na colagem, métodos dispendiosos) até a adoção de métodos mais modernos nas vendas.

Quantas destas sugestões serão postas em prática o futuro nos dirá, mas o simples fato de o empresário sentir a necessidade de procurar ajuda externa, por intuir, que alguma coisa, que ele não sabia identificar, já estava obsoleta e não servia mais para o melhor desempenho da sua empresa, é motivo para aplaudir a sua atitude, a sua humildade, de reconhecer que não é dono absoluto da verdade.

E assim encontramos o Princípio de Peter. Quando foi publicado o livro do Laurence Peter – “Análise de Peter” nos idos de 1989, o enunciado dele causou escândalo. O que ele disse? "Numa hierarquia todo empregado tende a ser promovido, até ao seu nível de incompetência."

Simples, não é? Quando alguém pára de ser promovido (ou crescer) dentro da empresa, escola, repartição etc. é porque atingiu o nível da incompetência e não dá para promovê-lo mais. Isto vale também para os donos de empresas ou empresários – atingir o nível de competência e depois o nível da incompetência. – Vejamos – porque as empresas param de crescer ou até andam para trás? Nem todas durante tempo todo, mas a história nos mostra que o tempo fatal pode e chegará para todas elas.

Corolário para o Princípio de Peter: O mundo e as empresas são dirigidos por incompetentes! – Por inconscientes deste fato, por ignorantes deste Princípio. Mas como será possível de escapar desta sina? Porque é que algumas empresas, algumas organizações ou alguns governos aparentemente ficam imunes a este destino?

Há uma resposta para esta indagação e até serve de alerta para os empresários que se encontram nesta encruzilhada como o nosso amigo mencionado no começo deste artigo. A resposta é que – onde as minhas faculdades, as minhas habilidades ou a minha instrução se tornarem com decorrer de tempo insuficientes para dirigir a obra que foi criada, o remédio é cercar se de profissionais treinados e experimentados a quem vou delegar a técnica de conduzir os negócios, orientados e definidos por mim. Inclusive, porque desta maneira, até irá sobrar mais tempo para eu refletir, raciocinar e observar os rumos e tendências.

Analogia poderia ser ilustrada por capitães de enormes transatlânticos, que na entrada dos portos cedem a execução da atracação aos “práticos”, sem com isso perder a áurea que cerca os velhos “lobos do mar”.

Estamos cercados de exemplos das empresas que desconheciam ou desprezaram o Princípio de Peter e não passaram o comando aos “práticos” antes do naufrágio. – Temos, na indústria brasileira de calçados, um grande senão: Onde encontrar os “práticos” em número suficiente para tantas empresas necessitadas? - E, atenção, a previsão do tempo para os dias futuros não é nada animadora!

Zdenek Pracuch