PLANEJAMENTO, ESSE DESCONHECIDO.

Muito se fala em planejamento, mas pouco se pratica. A confusão sobre o planejamento atinge proporções incríveis. Planejamento de produção normalmente se resume a digitação de pedidos – sem nenhum planejamento. Planejamento estratégico é objeto de cursos, artigos e livros, mas quem é quem o pratica ou se serve dele como guia para a gestão? Planejamento de vendas – geralmente acompanhado de espanto : “... e isso é possível? ”.

Felizmente, cada vez mais empresas estão se convencendo da necessidade de planejar as suas atividades, de traçar os rumos e se antecipar aos acontecimentos. Nunca antes fui solicitado com tanta urgência para ajudar na implantação do planejamento, em todos os níveis.

PLANEJAMENTO DE VENDAS:

Todo planejamento começa pelas vendas. Temos que saber o que produzir, em que quantidades, para quem e quando. Bola de cristal não resolve, mas o bom senso, experiência, pesquisa do mercado e intercâmbio de idéias com pessoas da linha de frente (representantes, distribuidores, balconistas) resolvem muito. É óbvio, que nenhum planejamento será definitivo ou rigorosamente exato. Mas serve para definir o rumo, as correções necessárias serão executadas no decorrer do percurso.

Planejamento de vendas tem ainda duas outras finalidades: serve para estabelecimento de metas para os vendedores e como aferição dos resultados atingidos na área de vendas. Acompanhamento diário ou semanal é essencial.

PRAZOS DE ENTREGA:

Uma vez estabelecidas as metas para os vendedores, o cumprimento de prazos de entrega se torna automático, porque se um vendedor não cumpre a meta, esta é transferida para outro e a produção cumprirá com a sua obrigação de entrega. Se um vendedor vender acima da quota, ótimo. Só que a entrega pontual será garantida somente para o que for estipulado na meta. Sobre o excesso tem que consultar a fábrica sobre o prazo de entrega.

Uma planilha Excel, ou similar, resolve o problema instantaneamente. Mas mesmo sem computadores este procedimento era feito á mão. – Numa indústria, onde recentemente introduzi o sistema (manual!), o encarregado de vendas me disse entre maravilhado e surpreso: há anos que tenho o problema de entrega e agora descubro como é simples de resolver!

Um alerta: tanto no planejamento, como no cumprimento do mesmo, uma palavra é obrigatória. Chama-se DISCIPLINA. Não adianta a programação mais bem feita, se vai sofrer intervenções no sentido: passe este pedido na frente! O que acontece é, que para satisfazer um cliente, seja lá por que motivo for, aborreço todos os demais que estavam na fila de espera.

PLANEJAMENTO DE COMPRAS:

É tão importante como o planejamento de produção. Nas empresas organizadas, ou nas empresas de grande porte existe uma regra rigorosa: não se programa nenhuma produção se todos os componentes não estiverem na prateleira contados e conferidos. Não adianta dizer que o Expresso já está trazendo. Alguém pode garantir o que é que ele está trazendo?

Resultado de um planejamento atabalhoado é, que para uma produção diária de mil pares temos dez mil pares em circulação, porque faltou isso e aquilo.

PLANEJAMENTO DE PRODUÇÃO:

É normal digitar os pedidos (e geralmente em cima da hora), jogá-los no colo do encarregado de produção e a produção “que se vire!”. O pedido tem que estar sexta-feira na expedição.

Ninguém se preocupa com operações críticas que demandam mais tempo, ninguém fez a cronometragem de orientação no pesponto para verificar qual é a capacidade deste em minutos disponíveis para cada modelo, ninguém se preocupou com giro de formas ou a capacidade de máquinas com produção limitada como injetoras, alta-freqüência ou máquinas de bordar.

O resultado é confusão, discussões, acusações de incapacidade de gerenciamento e o eterno bode expiatório – a produção per capita, que ninguém sabe o que é ou como avaliar, dada a disparidade de operações e de modelagem, mas todos se preocupam e falam sobre ela.

PLANEJAMENTO FINANCEIRO:

Se na parte de produção o planejamento existe só na placa da porta do departamento responsável pelo planejamento, na parte administrativa a situação não é nada melhor.

Causa espanto a ingenuidade com que os donos das empresas estranham, quando é mostrada para eles a real situação financeira, com projeção para três ou seis meses adiante. E isso é feito com dados e estimativas fornecidas por eles mesmos!

Só que nunca foram ensinados, nem tiveram este instrumento para avaliar o desempenho da empresa. Os contadores geralmente não sabem como abordar este problema e, por sua vez, estão muito mais preocupados com a situação fiscal e trabalhista para o caso de uma fiscalização.

Acompanhamento da evolução do capital de giro ou ter uma contabilidade de resultados nem é bom falar, porque ninguém a tem e nem sabe como fazer. Mas como dirigir uma empresa sem estas ferramentas tão necessárias? Fluxo de caixa é muito pouco para orientar um empresário.

RESUMO:

Existe um grande desconhecimento, para não dizer medo, da introdução e seguimento de tudo o que foi apontado acima. Medo injustificado, porque se trata de técnicas que podem ser ensinadas em questão de horas, no máximo poucos dias, para qualquer pessoa interessada e motivada que tenha um curso secundário. Fico impressionado, como o elemento feminino nas fábricas está se saindo tão bem, assumindo estas tarefas com seriedade e competência. Antes de terminar um treinamento, elas já vem com sugestões de como completar as tarefas, sem esperar chegar ao ponto.

A crescente pressão dos importados e a concorrência cada vez mais acirrada no mercado interno devido à perda dos mercados da exportação, obrigam os donos das empresas a aperfeiçoar a gestão numa escala que não imaginavam até pouco tempo atrás. – Mas não há o que discutir. Este é o preço da sobrevivência.

Zdenek Pracuch