REQUISITOS DE QUALIDADE - EXCESSIVOS ?

A qualidade incorpora vários aspectos. Há infinitos critérios, há tentativas de estabelecer as Normas de qualidade, há ISO’s de várias numerações, mas as discussões sobre a qualidade não esmorecem, antes pelo contrário, dão impressão de crescimento tanto em intensidade da voz como em argumentos.

Quais são fatos reais? Primeiro fato inegável é, que a indústria brasileira, não só a de calçados, mas em geral, atingiu uma fase madura, onde a qualidade já não é ponto de venda, mas se tornou uma obrigação indiscutível. Controle de qualidade se institucionalizou com a exportação e esta também foi origem de certos exageros que permanecem até hoje. Principalmente o exagero no quesito o que é de fato a qualidade.

Os americanos vieram, treinaram os inspetores nativos e estes preocupados em não perder esta “boca”, ganhando em dólares, na época que um dólar valia cinco mil cruzeiros, impunham padrões de qualidade tão rígidos, que eram quase impossíveis de realizar.  Couro e, principalmente, o couro brasileiro de determinadas regiões (não falamos de couros catados) ou pelicas e mestiços da caatinga, estão cheios de defeitos naturais.

Mas desde que estes defeitos não ferem a estética devem ser considerados como naturais. O material sintético sempre será mais uniforme e liso do que o couro, o qual é produto genuinamente natural e por isso sujeito à todas as vicissitudes na vida de um animal. É cicatriz do carrapato, marca do arame farpado da cerca ou espinho da caatinga, mas como foi dito acima, desde que estes defeitos naturais não ferem a estética por que recusa-los?

Estas considerações me vieram à mente quando vi o número de peças rejeitadas pelas inspetoras de qualidade do corte de uma renomada fábrica de calçados masculinos. Lembro-me perfeitamente do comprador da Smerling Imports que me disse: “Uma cicatriz de carrapato discreta é uma garantia de tratar-se de couro genuíno. O couro sem defeitos pode ser uma imitação de couro feita de plástico!”

O custo deste controle exagerado pode ser elevado. Couro de categoria custa caro hoje em dia e não é fácil de encontrar. Recusar uma série de peças cortadas por defeitos minúsculos não é uma política sadia num mercado altamente competitivo. E quando há discussão a respeito deste rigor a resposta automática é, que o departamento de venda se opõe à qualquer rebaixamento de padrões de qualidade.

Não se trata de rebaixamento de padrões de qualidade. Trata-se de bom senso e de economia. Pelo que se entende, o calçado é usado no pé. A distância de avaliação de um par de calçado é no mínimo de um metro e setenta quando se está de pé, ou de um metro e quarenta quando o indivíduo está sentado. Desafio a quem quiser se é capaz de ver um minúsculo defeito como, digamos cicatriz fechada de um carrapato, nesta distância, mais ainda, num calçado preto ou marrom café!

Vamos ser razoáveis! Exigir esse grau de perfeição do couro, quando nossas fábricas são obrigadas a trabalhar com couro de 5ª, 6ª ou 7ª qualidade! Acreditem, isso existe! Hoje temos categoria R-1 e R-2, ou seja, categoria de Refugo de 1ªclasse e Refugo de 2ª classe. Preciso dizer mais? Quando há trinta anos atrás tínhamos 3 categorias de 1ª a 3ª. Desafio sempre os classificadores para me mostrar a diferença entre a classificação de, por exemplo, entre 7ª e 8ª categoria. A única diferença visível é no preço das peles. É inacreditável a que ponto chegou a decair a classificação de couros! A diferença entre o couro e ouro está só na letra “c”.

Temos que ter produto de qualidade. Temos que ter produtos de alta qualidade. Mas esta qualidade tem que ter lógica, tem que ser orientada pelo bom senso e, também, não pode desprezar os mandamentos econômicos. Causar danos à economia em nome de perfeccionismo aplicado ao padrão de qualidade não justificável é miopia, que a longo prazo pode custar caro.

Zdenek Pracuch