CHINESES ESTÃO SE RETIRANDO ?

Houve um alvoroço considerável, pela vinda de alguns importadores, que até agora estavam se reabastecendo na China, à procura de novas fontes, alternativas, de suprimento de calçados. O que há nisso de admirável? Admirável pode ser somente a ingenuidade dos que acreditam que a maré se inverteu e, novamente, o Brasil irá ocupar um lugar de destaque entre as nações exportadoras de calçados.

Se vamos analisar o que acontece sob ótica restrita dos pontos de vista locais, até que poderíamos ficar eufóricos. Para quem está passando por dificuldades, qualquer sopro de esperança aumenta a circulação de adrenalina. Infelizmente, as coisas não são bem assim.

O Brasil está hoje firmemente enquadrado no comércio global e qualquer movimento comercial deve ser interpretado tão somente sob ponto de vista da globalização. Ou seja, o que aconteceu no mercado mundial de calçados e que poderia mudar o rumo do tsunami oriental? A rigor nada. Houve alguns episódios pontuais, mas olhando a retrospectiva, nenhum destes episódios trouxe alguma mudança que poderia significar a mudança nos rumos das tendências.

Lembram da revolta na Praça da Paz Celestial em Pequim? Quando houve um massacre de estudantes e dissidentes, até hoje não esclarecido? Nos Estados Unidos, sob o governo republicano na época, houve protestos, até ameaçando com bloqueio de importações chinesas por alegada violação dos direitos humanos. O que aconteceu? Nada. Os consumidores americanos simplesmente mostraram aos congressistas, que não estão nem aí e não pretendem pagar mais, por medidas punitivas, por causa de problemas internos da China.

A União Européia votou há uns meses sobre a prorrogação de taxas anti-dumping contra importações chinesas e em parte das vietnamitas. A votação passou raspando a trave, porque os países do centro e do norte da Europa, não têm nenhuma preocupação com preservação de 30.000 empregos na Itália, Portugal e Espanha, que de qualquer modo já foram perdidos e não querem pagar calçados mais caros por causa disso.

É óbvio, que a próxima votação, daqui a menos de dois anos, já está decidida. A China ainda não se mexeu sobre a sobretaxa do calçado no Brasil. Com a tradição de cultura milenar, parece que eles têm tempo de sobra para tomar decisões. Mas, no dia que elas serão tomadas, salve se quem puder. Lembram do caso dos navios lotados de soja, que foram obrigados a fazer meia volta por causa de uns grãos transgênicos de soja que não constavam do contrato? O contrato de fornecimento foi firmado quando o preço na Bolsa de Chicago estava em alta e depois caiu abruptamente. O que o Brasil fez? Fingiu que não aconteceu nada, renegociou o preço e a soja com alguns grãos transgênicos pode entrar na China.

Essa história pode se repetir com minérios da Vale, com carne da Friboi, com soja da Cargill, com sucos da Cutrale – não adianta, somos vulneráveis e vimos o que aconteceu com empregos no Rio Grande do Sul. Azaléia, grupo Dilly e outros menores já produzem na surdina o calçado na China. Até que rima bem.

Que os importadores sempre vão procurar alguém que possa produzir mais barato, disso recebemos uma lição preciosa com invasão dos gringos em Franca, quando Itália, Portugal e Espanha se tornaram pouco atrativos para eles. Vieram em bandos. Para onde foram? Bem o sabemos e se no momento a China enfrenta dificuldades na Europa e os europeus querem evitar a sobretaxa e batem nas nossas portas é um ato, como agora se costuma dizer “pontual”. Sem esquecer que entre a China e o Brasil ainda há um gigante adormecido, que aos poucos está acordando. Chama-se Índia.

Queiramos ou não, o Brasil perdeu o lugar de terceiro maior exportador mundial para sempre. Mais um motivo, para cuidar, como nunca antes do mercado interno, através de criatividade adaptada ao clima e aos hábitos, produtos com qualidade, calçados saudáveis e um serviço tanto de vendas, como de entregas, absolutamente impecável, onde exportadores numa distancia de dezenas de milhares de quilômetros nunca poderão competir com os produtores locais, eficientes e confiáveis a não ser no item preço. Mas, pelo menos no calçado masculino somente três por cento dos compradores é influenciado pelo preço, como demonstram as pesquisas.

Zdenek Pracuch