OS VELHOS SAPATEIROS

Existem nomes no meio dos sapateiros que se igualam a uma lenda. Há vários deles que marcaram o cenário da sapataria nacional com a sua arte e a sua personalidade. Corro o risco de cometer injustiças omitindo algum nome do quilate de um Scatamachia, de um Ruy Chaves, de um Motinha e “last but not least” (espanem o inglês galera!) Altemio Spinelli.

Foi com grande satisfação que recebemos notícia que Altemio voltou a arena e com um entusiasmo e visão, que deveria servir para os empresários que estão meio perdidos em tantas novidades e problemas que o terceiro milênio trouxe para a indústria de calçados.

O que deveria servir de exemplo no caso do Altemio Spinelli?

Como disse antes – a visão. Spinelli voltou a ativa não para continuar o que fez durante a vida toda – um calçado de categoria, individualizado e somente terminado pelo modo industrial.

Hoje está voltando com a visão aberta para o terceiro milênio. Não sei se fez estudo do mercado, se usou estatísticas demográficas ou consultou algum geriatra – ortopedista.

O fato é que, concentrou a sua atenção tanto nas moléstias que afetam o pé, especialmente dos diabéticos, ou os pés sujeitos aos esforços extraordinários na prática dos esportes e lançou, produz e vende uma palmilha que atende a estes dois casos específicos.

Associado ao nome que criou durante muitos anos de atividade sem igual na produção dos calçados sob medida, a volta dele está fadada a ser um sucesso maior ainda.

Qual é a lição que podemos tirar deste episódio? Lição simples, elementar:

Sair do comodismo, abandonar as trilhas batidas e inovar! Não ter medo do desconhecido. Parar de perguntar: alguém já fez? Onde posso ver como isto funciona? Será que vai dar certo?

O que não está, comprovadamente, dando certo é a maneira de conduzir os negócios e gerir as empresas do mesmo modo como há cinqüenta anos atrás. Infelizmente, olhando em redor, poucos empresários têm a coragem de inovar, de se atualizar, de procurar novos caminhos tanto para criação, como para produção e para vendas.

O mundo parece que está girando mais depressa. As informações circulam com velocidade da luz. Já está se tornando difícil acompanhar a evolução. O que dizer, então, de implantar ou introduzir as novidades que surgem a cada instante?

O Altemio Spinelli, bem que poderia gozar da aposentadoria merecida, em vez de ficar observando de longe a luta dos outros, entrou com toda força para um segmento, parcialmente novo para ele, mas em que ele tem fé de acertar.

Compartilho a opinião dele. Vejamos, que mercado específico se abre àqueles que atenderão a crescente faixa da terceira idade? Pessoas, que em primeiro lugar procuram conforto para os pés estragados pelos anos de uso de calçados inadequados, sacrificando os pés querendo andar na moda. Principalmente as senhoras. A fatura da vaidade está sendo apresentada pelas unhas encravadas, calosidades, joanetes assustadores, deformações diversas. Não falo de casos patológicos. Estou pensando nas mulheres e homens normais, só com os pés em péssimo estado.

Tenho uma nora que é podóloga em São Paulo. De vez em quando vejo as fotografias do “antes” e “depois”. É de estarrecer. Mas onde está a indústria de calçados para atender a legião destas pessoas, de bom poder aquisitivo, disposta a pagar um preço alto pelo conforto de um calçado feito para atender especificamente este mercado?

Altemio Spinelli mostrou o caminho. Quantos seguidores, inovadores, será que vai encontrar?

Zdenek Pracuch