AINDA NÃO HÁ LUZ NO FIM DO TÚNEL.

Já está se tornando aborrecido escrever e ler sobre a crise na indústria de calçados. Infelizmente, não há notícias alvissareiras, que poderiam trazer um raio de luz à combalida indústria. – Não bastasse a perda de mercados importadores em favor da concorrência asiática, não bastasse a situação do real supervalorizado em relação ao dólar, agora os industriais ainda enfrentam a alta de matéria prima essencial, pelo menos para o calçado masculino, que é o couro.

Há várias explicações, costumeiras, como a entresafra mas a verdade é uma só: o couro está escasso no mercado, devido à exportação que acontece “como nunca antes neste país!”. A lei do mercado é clara – havendo escassez o preço sobe. E no caso do couro a subida do preço é duplamente dramática. O calçado de couro – de qualidade – está ficando fora do alcance do consumidor da classe média, devido ao preço elevado e a exportação do produto está a cada dia mais difícil devido ao dólar barato.

A euforia do presidente e do ministro da Fazenda, sobre os ótimos resultados na balança comercial e sobre as reservas que o Brasil acumulou nos últimos dois anos, tem o seu preço. Perguntem à legião dos desempregados na indústria de calçados, das confecções, dos móveis, dos brinquedos, dos fogos de artifício, da eletrônica – o que eles pensam dos magníficos superávits da balança comercial ou das reservas cambiais.

O fato é que este ano pela primeira vez a China terá saldo comercial favorável com o Brasil, tendo sido negativo em todos os anos anteriores (Estadão 19.8.). Como é que isso pode acontecer, com esta montanha de minério, de soja e outros alimentos comprados pelos chineses? É simples, a despeito de todas as exportações de commodities, os chineses exportaram para o Brasil maior valor em produtos manufaturados. Notoriamente subfaturados, o que torna o rombo real na economia da indústria de transformação ainda maior.

E em nome deste superávit, estamos exportando couro, que paga um imposto de exportação de 7 % e junto com ele estamos exportando empregos que não chegam a ser criados aqui, por dificuldades acima enumeradas. Mas, a euforia (des)governamental continua.

Tem mais um aspecto, que qualquer industrial confirma com tristeza. O couro de boa qualidade, que normalmente já é bastante difícil de encontrar, é todo exportado. Para o industrial brasileiro de calçados sobra o couro, pasmem, de 5ª, 6ª, 7ª e 8ª categoria e até para o couro rejeitado classificação “R” já foram criadas categorias R-1 e R-2! Até o couro refugado ainda pode ser dividido em categorias! Até que ponto de aviltamento chegamos!

A situação no mercado de couro é calamitosa. Afeta diretamente um ramo industrial de mão-de-obra intensiva, altamente treinada, que hoje é capaz de produzir um calçado de qualidade incontestável, que poderia conquistar qualquer mercado, dos mais exigentes. – Mas devido à estreiteza de visão dos governantes brasileiros, esta e outras indústrias, que nem dependem tanto da matéria prima nacional estão em crise.

O aumento do preço de couro é uma calamidade para a indústria de calçados. Mas o que dizer da carga dos impostos? Onde está a tal reforma fiscal? Que tal enxugar a máquina do governo? Para que o Brasil precisa de 37 ministérios e outras tantas centenas de órgãos e agências reguladoras (regulam o quê?) ?.

Já não se fala na flexibilização da legislação de trabalho. Já não se fala na abolição do Imposto Sindical. - Pelo contrário, parlamentares querem efetivar mais de 250.000 funcionários hoje sob regime da CLT, para serem beneficiados com estabilidade, com gordas aposentadorias integrais etc.etc..

Infelizmente, onde a ideologia fala mais alto que o bom senso e o espírito público a situação não favorece os empresários, que querem criar empregos e criar bens accessíveis e benéficos para todos. Infelizmente.

Para nos, calçadistas, a escassez do couro, a matéria prima vital, causada principalmente pela exportação facilitada pelo governo é somente mais uma das pragas que atualmente sacrificam a nossa indústria, mas que poderia ser evitada, se houvesse coragem política para isso. – O único deputado que levantava a voz no Congresso em favor dos sapateiros era o deputado federal Júlio Redeker, que morreu no desastre da TAM. Até nisso o destino conspirou contra nos. – A sina dos órfãos é sempre triste.

Zdenek Pracuch