DE VOLTA AO TRABALHO

E eis nos aqui, de volta ao trabalho, depois do descanso proporcionado pelos feriados do fim do ano e pelas férias, que muitas empresas concedem aos funcionários, para fazer frente ao absenteísmo costumeiro desta época.

De volta ao trabalho e de volta para enfrentar os mesmos problemas do ano passado, ou melhor, dos anos passados, já que pouca coisa mudou, tanto no âmbito econômico geral como no âmbito interno da gestão das empresas.

Os problemas da área econômica, queda nas exportações, invasão do mercado pelos importados, crescentes exigências e demandas de grandes lojistas, métodos arcaicos de gestão e de produção, falta de mão-de-obra especializada e motivada para produzir, infra-estrutura do século passada, não atendendo à dinâmica da economia atual, legislação tributária obsoleta e extorsiva, leis de proteção ao trabalho em completo desacordo com a atualidade econômica vigente – a lista é enorme, desafiadora e sem nenhum vislumbre de alguma melhora num futuro previsível.

Podemos ainda acrescentar a baixa produtividade da indústria nacional, em grande parte causada por todo o rosário desfiado acima mas, em grande parte, causada também pela gestão deficiente. O que se aplica, principalmente, à indústria de calçados. Num recente estudo a revista Exame apontou, que a produtividade do operário brasileiro é cinco vezes menor, que a do operário norte-americano.

Não vou culpar o operário que se limita a executar aquilo para o que foi treinado e orientado. Há uma necessidade premente de analisar os procedimentos a partir da concepção do produto. Por que a New Balance, nos Estados Unidos, produz um par de tênis em 12 minutos e nos temos fábricas, ditas modernas e organizadas, que precisam de, no mínimo, cinco dias para fazer o mesmo?

Há um enorme campo para melhorar o desempenho. Basta dar um passeio dentro das fábricas, para ver como a mão-de-obra está mal aproveitada, como os espaços estão ocupados com excesso de mercadoria em giro, como há o desperdício de materiais, bastando enfiar a mão para dentro dos tambores com retalhos na seção do corte e assim por diante.

Existe queixa generalizada sobre a falta de mão-de-obra especializada. A pergunta que cabe é: alguém fez alguma coisa para corrigir esta situação além de se queixar? Deixar o problema por conta do SENAI ou as escolas técnicas, hipotéticas, porque nenhuma foi destinada à indústria de calçados, é fugir do problema. O SENAI com toda a boa vontade nada mais faz do que perpetuar os métodos de produção do século passado e não tem nenhum curso específico para ensinar os métodos modernos de gestão e de produtividade.

Há vinte anos atrás, no meu livro “Organização e gerenciamento do pesponto” já havia definido como organizar um pesponto (a maior parcela de problemas na nossa indústria) a partir da seleção das operárias, numa bateria de testes, incluindo a coordenação psicomotora. Com um treinamento passo a passo até formar uma operária produtiva. Me mostrem uma fábrica que fez curso para pespontadeiras dentro da sua produção? Só conheço uma, a Tenny Wee em Franca, onde com ajuda do senhor Diogo e Dª  Zuleide transformamos um grupo de coladeiras de peças (outra aberração!) em pespontadeiras plenas.

A meta das empresas deveria ser transformar o número de dias necessários para produzir um par em número de horas! Exemplo? Reduzir o tempo de produção de cinco dias para cinco horas! Impossível? Nem tanto, porque hoje fazemos isso, em muito menos tempo, em Minas Gerais!

Não se trata somente da economia do capital empatado em produção, sem nenhuma necessidade. Esta flexibilização representa uma melhora substancial no atendimento de pedidos. Justamente na hora em que o varejo está desprovido do capital para manter estoques. O nome do jogo é reposição expressa (via Sedex).

Que além das mudanças profundas na gestão da empresa no setor produtivo, este método também representa profundas mudanças no método de comercialização é implícito. Mas, por hoje vamos ficar por aqui, abordando a comercialização, dá matéria para mais cinco colunas!

Vamos voltar ao trabalho, descansados, cheios de gás e entusiasmo para enfrentar este 2013 que vai exigir de nos o máximo, em todos os sentidos. Feliz Ano Novo!

Zdenek Pracuch
14/01/13